quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Das intenções da chuva


"Chove lá fora e eu não tenho mais você,
Quanta vontade de te ver.
Saudade é a tempestade que fecha o verão,
É o último suspiro da paixão"


Os dias de chuva trazem consigo as lembranças úmidas guardadas nos porões da memória. Aquelas lembranças mofadas de tão velhas, ainda que não tão antigas, e que se tornaram velhas porque desobedeceram a ordem do tempo e resolveram se econder no fundo da consciência, naquele canto escuro e intocável que sempre que é remexido, dói.

A chuva traz, gotejando, sua presença ausente. As gotas são a transmutação da sua presença junto a mim. Não presença física, nem psicológica, mas tão real que me sinto molhado, detiado na cama ouvindo você cair lá fora.

A chuva tem uma beleza dolorida, e apesar de às vezes vir calma e discreta, arrebata ainda assim. Porque é você pingando, intenso ou não. Quando você vem em tempestade, leva tudo consigo, mas depois traz a calmaria de um horizonte iluminado com os arcos coloridos e os raios fracos do astro rei. Um brinde ao recomeço.

E ao sinal mais fraco de sua ida, a chuva leva para longe tudo que trouxe, desavisadamente. E abre-se o sorriso como abre-se o sol. Ambos não intensos, mas insistentes em estar ali, como que obrigados. Obrigados a trazer a glória após o esforço, o troféu após a vitória, e o amor, após a solidão.

2 comentários:

Darlan disse...

Texto lindo, Anderson! E com algumas pitadasde dor... perfeito!

abraços!

Anônimo disse...

Adorei dérson!!
A chuva não é só uma simples chuva, é muito mais, agora sei!

abração!