sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Um vai-e-vem infinito...

"Me lembrarei de tudo que eu não disse
E de quando havia tudo que existe"

"Eu sou o que escrevo. É assim que vivo: só escrevo o que vivo. Porque não posso escrever o que não sei. O que penso eu sei, eu construo, eu faço um mundo dentro de mim. E assim, mesmo que não possa tocá-lo, ele existe, e é sobre ele que escrevo, sobre as sensações que percebo no mundo que crio. É o dever que temos: escrever, para capturar o momento e torná-lo para sempre. Sim, porque escrever é a maneira que, ainda falsa, temos para dominar o tempo. E assim, sabendo que esse instante está guardado, posso me permitir pensar outras coisas, guardar outros momentos. E esse eu quero guardar, especialmente porque é tão incomum e há algum tempo foi tão surreal, que nem mesmo eu tendo autonomia para criar no meu mundo o que quisesse, criaria esse momento. Ah, provavelmente vocês me dirão que não crio nada, que tudo é coisa de destino, mas eu não sei. Logo, sobre destino não posso escrever. Só escrevo o que sei. E sei que você precisou de mim hoje. tanto no meu mundo quanto no seu (porque sinto que tem um mundo seu também). E fico satisfeito por ter sido solicitado, ainda que apenas para ouvir-te. Se bem que ouvir é muito mais complicado do que falar, acredite. O bom é que pude comprovar que pensamos - ainda que com tantas diferenças - em alguns pontos, da mesma forma. Não queremos ser esquecidos. E te disse que todos pensam mais ou menos assim. E você disse que, ainda que pensem, não são todos que fazem acontecer assim. Serão esquecidos porque o desejo de serem lembrados ficou no pensamento. É outro motivo pelo qual escrevo. Porque pensamentos são muito efêmeros. Eles parecem ter medo de aparecer mais do que uma vez. Então coloco em prática o exercicio da escrita, ao passo que você faz o que pode para não ser esquecido. E vamos juntos a partir de agora. Você devendo no banco e eu tentando seqüestrar esses pensamentos inquietos que passam daqui pra lá e de lá pra cá, dançando em minha cabeça. É uma troca mútua: eu te escuto e te apóio, e você, ainda que involuntariamente, me faz escrever (ou ao menos me faz pensar). Pensar em coisas que não pensaria em outras circunstâncias, porque não existiriam no meu mundo mesmo que pudesse inventá-las, já disse. Mas não sei por que não existiriam. Só não existiriam. Parece um monte de bobagem, e talvez seja mesmo. Mas eu quero guardar. Eu insisto. E tem coisas que devem ser assim mesmo: insistidas. Se não insistirmos, como seremos lembrados? As pessoas desistem muito cedo de seus sonhos. É por isso que talvez suas vidas sejam sem graça. Mas a gente não. Nossas vidas não podem ser apáticas como tantas outras. Afinal, viremos andarilhos mas não nos permitamos aos filhos chatos e cheios de problemas que terão filhos que terão filhos que não se lembrarão de nós (se chegarem a ter consciencia de que existimos)... Somos "teimosos", e isso, certamente, nos permitirá livrarmo-nos daquilo que, assim como o horror do esquecimento, nos atormenta tanto: a indiferença. Só não nos livraremos do risco de sermos incompreendidos. Porque, ao contrário de tantos, contentamo-nos com pouco: basta querer. Não existe motivo maior."

Eu escrevi esse texto há algum tempo...
Quem devia, não leu; mas minha parte eu fiz.
E me lembrei dele ontem. Não queria, mas lembrei...

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