quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

"Qualquer coisa que se sinta"


"What shall we use to fill the empty
Spaces where we used to talk?
How shall I fill the final places?
How shall I complete the wall?"

Um amor, é tudo que quer e precisa. Um amor que transforme em tardes as frias manhãs de inverno, em noites as tardes cinzas e vazias e em novos dias as intermináveis noites de insônia. Um amor que preencha todos os "empty spaces" ou ao menos alguns.



Não que deva ser realmente necessário dividir sua alma em dois (e chamar a outra metade de "gêmea") para que viver tenha algum sentido. Alías, não é nem justo que outra pessoa se responsabilize pela "tarefa" de nos fazer felizes - ou completos, ou seja lá que nome se dê a esse sentimento que faz as novelas virarem mania e os filmes virarem sucessos.


Mas e esse vazio? Preencher como então? Chega uma hora em que ursinhos de pelúcia não servem mais como companhia, passam a ser o que sempre foram: enfeites. E a menina quer brincar de namorar de verdade. Chega uma hora em que os cometas passam rápido demais, ou nos enjoam facilmente (se é que passam), e tudo o que mais se deseja é abrir a janela e ver um sol brilhante lá fora, bem alto no céu, que aqueça o frio e dê fim à escuridão, que traga qualquer certeza mínima à quem até então só restou ter esperança.


Um amor que compense: compense as dores, as noites em claro, as decepções anteriores, as juras não cumpridas, as datas esquecidas, as brigas adiadas. Um amor tranqüilo. Ou mesmo um amor louco, que é melhor do que nada. Um amor para AMAdores, desconhecidos de razão ou limite. "Qualquer amor, qualquer coisa que se sinta", ainda que sem sentido.


O que precisa é simples: amar, mais do que ser amado. Na verdade, se não é pedir demais, quer um amor justo, nem escravo nem opressor. Um amor que se baste, que se sustente por si próprio, sem cobrar nada, sem perder nada que uma individualidade forçada se habituou a tornar cotidiano por não ter com quem dividir aquele domingo no parque, ou aquele cd novo, ou aquela divagação sobre os mistérios da vida...


One love, no more.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Meus pêsames

Tinha um cadáver ali, esticado no chão daquele quarto limpo, apesar de bagunçado. E não era um cadáver qualquer. Esse era "especial", porque, apesar de absolutamente imóvel e sem qualquer indicação de presença de sinais vitais, vivia.
Um semi-cadáver. Foi deixado ali porque havia o nojo e a aversão característicos de tudo que morre. O que fazer? Enquanto não chegasse alguém - testemunha - com coragem suficiente para tomar as medidas necessárias, nada.
E o semi-cadáver lá, pacientemente morto, inerte e provavelmente rindo-se por pregar uma peça nos espectadores de seu corpo cheio de pernas e todo nojento - como a criança que finge dormir quando algum adulto se aproxima. Por falar nisso, tenho para mim que, quando criança, quem me enganava eram os adultos (eles nunca percebem que a gente percebe que eles sabem que estamos fingindo, porque adultos não sabem representar).
Mas não no caso do semi-defunto. A cena parecia mesmo de teatro. Todos abandonaram o cadáver lá. Inclusive o próprio cadáver abdicou de sua vida por alguns instantes em favor da farsa. Nós fazemos isso às vezes, abrindo mão de nós por nossos amigos, parentes, ou pelas grávidas nas filas do mercado ou do banco. Não acho errado. Na verdade não acho nada sobre isso.
E lá estava aquele corpo todo esquisito - porque se mortos já são estranhos, semi-mortos
então... Mas aí cansou-se de ser morto (ou teve medo de se acostumar com a representação e depois não saber viver novamente) e - susto! - levantou. Não, não levantou. Rastejou. Só movimentou-se. E de forma tão abrupta, como que tomado por um susto provocado por um pensamento que o assustou profundamente (como acontece quando estamos quase dormindo) - e moveu-se. E assustou a todos, ainda mais que a si mesmo.
Mas é compreensível. Imagine o espanto de ver um cadáver no seu quarto limpo apesar de bagunçado. Agora imagine que este cadáver se mexe. Pois então... Apesar de tudo, uma cena bela. Alguém que escolhe morrer para representar e, com medo de então morrer para sempre, volta a viver como num susto. Quando será que morrerá verdadeiramente?
Isso parece "Beleza Americana". Pessoas que viveram mortas e que, não contentes em ter passado pela vida ao invés de fazê-la acontecer, resolvem "mudar de vida" nos instantes finais. Mas aí é tarde para se mudar o fim. Havia cerca de quarenta anos para serem pelenamente vividos, e que foram mortos dia após dia, a cada sufocamento de vontade, a cada vez que se evitou ser feliz ou abrir um sorriso. Então resolve-se: "Agora vou viver". Mas aí não há mais tempo... Aí, se há vida após a morte, quem sabe na próxima se aprenda. Mas o tempo desta vida acabou. Foi tudo ao contrário: morreu-se em vida, e quis viver a morte... Meus pêsames: seu tempo acabou.
O tempo só é eterno para as baratas. Elas dominam a arte de viver: espalham seus órgãos para fora do corpo quando são massacradas por chinelos desesperados de nojo, vivem sei lá quantos dias sem cabeça e só morrem por não conseguir comer. Elas vão repovoar a Terra após a explosão das bombas atômicas. Por isso tenho motivos para crer que aquela barata que se foz de morta naquele quarto limpo apesar de bagunçado veio só nos dar um recado: não importa o quanto vivo ou morto você esteja, seu mundo será meu.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Te espero para o chá, às cinco.

"Janelas e portas vão se abrir pra ver você chegar"
Esse tal de Amor. Acho que é meio como Deus. A gente sabe que existe porque ouve falar, tem fama de ser bom e tudo... Mas nunca dá as caras. Pra mim pelo menso não. Mas não guardo ressentimento. Pode ser por pirraça que ele não aparece, mas também pode ser que eu ande me escondendo, então, por via das dúvidas, prefiro acreditar que o Amor é bonzinho e que um dia, em forma de alguém, ele venha tomar um chá aqui comigo, ou um café, e nós nos ocupemos, pelo resto dos tempos, um do outro. Simples assim.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O Texto da Alma que Foi

"Deixa eu tocar sua alma
Com a superfície da palma
Da minha mão"
Me assalta de novo a necessidade de escrever. Aquela inquietação que não se sabe de onde vem, nem como chega e se instala, mas que, de repente aqui está e toma conta de tudo e não se ausenta antes de eu me sentar aqui e escrever (rabiscar) meia dúzia de palavras talvez sem sentido, talvez transbordando significados, mas com o único intuito de liquidar a sensação de "você TEM QUE escrever".
É meu compromisso com a alma. Ter papel e lápis na mão quando a alma quer sair de alguma forma. Aí ela sai por aqui. Finge que papel e lápis são portas e de repente ela chuta tudo ao acaso e sem aviso, e sai. Sabe lá pra onde vai. Perde-se por aí - ou encontra-se. E sempre se expulsa daqui de dentro da maneira mais "feroz" possível. Me deixa todo bagunçado por dentro, mas me deixa em paz.
Não sei que segura esse lápis. Me confundo quando escrevo, e não sei se sou eu, se é a tal da alma rebelde, ou se é uma mistura (afinal, uma alma vive sem corpo? um corpo vive sem alma?), ou ainda talvez não seja nada disso e eu esteja (eu?) inventando tudo só pra ter o que escrever. Mas nessa hipótese não creio. Enganando quem lê, se engana também quem escreve, porque se o que Clarice Lispector (por exemplo) escreve diz tanto a mim e é mentira o que ela me diz, então ela mentia para si ao transcrever aqueles pensamentos (que também sabe-se lá se não era a alma dela querendo sair...).
Não sei se consegui explicar, mas o que importa é que se, no caso d eeu estar escrevendo, estiver inventando tudo e enganando quem lê, também engano a mim (e isso é ainda pior, segundo o Renato, porque "mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira"). Se, ao contrário, quem divaga sobre verdades e mentiras aqui é a alma que quer sair de dentro, então engana a todos nós.
Então pronto. Bela alma que tanto queria se jogar no papel e acaba agora confundindo tudo. Se bem que não há, na arte da escrita - ou em qualquer outra arte - obrigação nenhuma de esclarecer nada.

Se me incomoda essa confusão? Lógico que não. O que me incomodava era aquela necessidade primeira de escrever. Se aquilo virou isso, não posso fazer nada...
E é o que vou fazer: nada. Sinto que a alma agor está longe daqui, e não sei se demora pra voltar (mas volta, fiquem calmos). Então paro aqui, e quando ela voltar, que sinta-se à vontade pra desonfundir tudo, ou nos confundir de novo...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Sobre a TV

"Vem cá, vem ver
Como tem babaca na tv"

Acho graça quando escuto que sou "pseudo-intelectual" só porque não dou funcionalidade àquele aparelho que enfeita minha estante na sala. É, passo batido pela TV sim. Aos domingos então... Ver o quê? Gugu, Faustão, Pânico na TV?
Nada contra quem assiste. Desde que não venha se meter no que eu vejo ou deixo de ver, e pare de me achar intelectual ou o caralho por causa de uma merda de televisão. Todo mundo sabe dessa manipulação barata de opiniões e costumes, mas continuam vendo qualquer merda que passar na tv. Se a Bebel é a estrela da novela das oito, então todo mundo saindo vestido que nem prostituta na rua, ok? Jornal Nacional, se espremer, sai sangue, porque o que cola é noticiar tragédia... Só porque decido virar as costas pra tanta desgraça e futilidade, virei "intelectual".
Vai começar amanhã a oitava edição do Big Brother Brasil. A Globo adora. Fatura milhões em ligações e acessos ao site do programa. O povo adora também - porque quem não adora tá por fora - e ocupa noites vendo os "brothers" se enchendo de festa, comida, bebida, bunda no sol e piscina no calor, e dias votando nos emparedados. E continuam em suas vidas de merda, ganhando seu salário de merda, mas tudo bem, né?
Agora pergunta se lembram em quem votaram pra prefeito, vereador, governador, deputado... Disso ninguém lembra. Não que esteja errado não lembrar dos caras que a gente põe nos cargos públicos pra nos representar e lembrar da mocinha da novela - até porque a gente pode ligar a televisão e ver o rostinho bonitinho dela todo dia, e os deputados só vão trabalhar três vezes por semana (e pra ser sincero, também acho a TV Câmara um saco!). Mas poxa, pra assistir televisão só pra ver quantos morreram nas estradas no fim do ano ou carnaval, ou ver novela e depois ter que "cair na real" e ver que aquilo não tem nada a ver com a vida do brasileiro, então prefiro não ver nada (inclui-se aí, no NADA, os documentários sobre tribos indígenas que não existem mais).
Não sei o que eu quero com isso. E na verdade, é só o que eu penso também. Se você se satisfaz assistindo os especiais de fim de ano da Globo ou as palhaçadas do Pânico na TV, tudo bem. Ninguém vai dizer que está errado. Do mesmo modo que a minha escolha de não assistir a nada disso também não está errada e não deve ser questionada e nem rotulada de "pseudo-intelectual", "intelectual" ou o que for.
A televisão tá aí. Faz parte da vida da gente, querendo ou não. Cada um que escolha o que quer ver, assim como cada um escolhe que cor de roupa comprar, ou que música ouvir, ou o que beber, comer etc. SEM RÓTULOS, porque não somos produtos.
E tenho dito.