terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Canção para o Ano Novo

Que seja doce, como disse Caio. Que seja doce a cada manhã que antecede um dia cheio de coisas novas que podem acontecer a ti. Porque eis o belo da vida: não sabemos o que pode acontecer.
Que cada mágoa não seja mais que uma nova lição de que não se deve - e não se pode - deixar nas costas de ninguém a responsabilidade de te fazer feliz. Que isso só dependa de você. Que você faça muitas coisas: compras, passeios, conversas, cigarros - por que não? - que preencham o seu dia. E que o pouco tempo que lhe seja disponível pra pensar, que você pense coisas boas, e que pense o menos possível no passado. Porque, afinal, ninguém vive disso.
Que cada "remember" seja um novo capítulo, e nunca uma mesmice, uma repetição - pra que tudo tenha a graça que deve ter. E que seja doce! Que lembrar do passado não seja exatamente isso. Que seja viver o presente, e, talvez - quem sabe? - pensar no futuro. Ou que não seja nada disso, mas que seja alguma coisa, além de doce...
Que você cubra seus ódios de amor. Que você dê uma chance ás pessoas. Que você dance. Que você ria de verdade dos seus erros, e procure não mais os cometer. Que você chore com um sorriso grande estampado no rosto. Que você saiba que grandes amores podem se tornar grandes dores, e que não se surpreenda com isso. Que quando essas dores apertarem, você telefone, escreva, desenhe, ouça uma música, tome um banho frio. Ou espere, que uma hora ela vai embora.
Que o medo de não conseguir, não te impeça de tentar. Que o fracasso não seja o motivo da desistência. Mas que você desista, para se poupar, quando preciso for. E que você se guarde para momentos especiais. Não se desperdice (o que não significa que deve se poupar). Não se poupe de nada. Enfrente a tudo com a cara limpa. Levante a cabeça e siga. Sempre.
E que você abra os braços para 2009. Porque ele vem vindo novinho, e você não sabe o que pode acontecer na próxima manhã...
Mas que seja doce!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Mal Necessário

Ele gostou. Foi bom sentir de novo o que há tempos lhe era ausente. Um arrepio, um frio na barriga. A espera - incerta - que terminou antes do que se esperava de repente sem que se tivesse tempo de pensar apenas disse "Sim, venha". E estavam ali. Completos.
O gosto de cigarro, o cheiro, o toque, a saliva... Tudo. Era tudo que precisavam. E Legião Urbana.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Para o amor encontrado

Para ler ao som de "Vento no Litoral"
Ele queria um beijo. Mas só se fosse daqueles lábios, os carnudos com que sonhara por tantas noites longas e em claro. Queria enxergar o mundo, mas através das portas castanhas daquela alma sofrida e bonita. Queria só ouvir aquela voz - música para seus ouvidos - suave como a chuva calma da noite fria, aquela voz de pele de pêssego.
Encontrou bocas e olhos e vozes e se perdeu. E não quis ver ouvir sentir mais nada. Deu as mãos para a saudade do que nunca teve e saiu em sua companhia rindo e dançando na chuva. Estava feliz por não estar só, mas faltava algo: aquela boca, a voz de pêssego, os olhos castanhos. Despediu-se da saudade e caminhou sobre as poças de água e lágrimas que havia por aí.
Parou. Olhou, porocurou a agulha no palheiro e achou, lá longe, aquela voz, aqueles olhos, aquela boca - lá longe bem longe onde a vista não alcança. E de novo encheu-se de felicidade. Correu sem sair do lugar, gritou e só o eco respondeu. Mas estava ainda feliz. Achou o que já cansara de procurar. Estava lá depois do horizonte, mas estava lá.
Então abriu seus braços para o mar. Deixou sua roupa umedecer, a água fria entrando por todos os espaços. Era o amor possuindo até o fundo mais fundo daquela alma que achou a gêmea. Ansiou pelo encontro como a criança que espera pelo doce. Nadou até não sentir mais nada - nem braços nem pernas nem o oxigênio transitando pelos pulmões. Mas nem precisava sentir: era como o vento invisível mas devastador.
E nadou nadou nadou até o mais perto do horizonte que conseguiu. E cansou várias vezes no caminho, mas não desistiu. Não podia desistir agora, no meio daquela água toda. Mas não por medo de ser engolido ao fundo do mar. Não podia parar porque encontrara-se de novo com aquela metade de longe que queria perto, para sentir lábios e vozes e olhos e tudo.
E quando deu por si, lá estava, ainda na água, ainda tomato pelo amor. Eu vou conseguir, eu vou abraçá-lo e beijá-lo e convidá-lo pro jantar e pro sofá debaixo das cobertas com pipoca e Almodóvar e Tarantino e Coca-cola.
E uma euforia - a mesma de quem ama na adolescência, a mesma do primerio beijo e do primeiro porre - assaltou-lhe de repente. Era real. Era distante, mas era real. - Tocou-lhe a face, encarou-o nos olhos lindos e castanhos e contemplou sua alma tão doce que podia sentir-lhe o gosto. E - como nunca antes - completou-se.
E felicidade foi pouco para descrever o momento.
E a partir dali, nada do que viesse a acontecer seria melhor ou passível de comparação.
Então rendeu-se às águas mansas do enorme e imponente mar - amor. Sem piscar, sem respirar, sem nenhum som emitir, sua mão deslizou pela pele intocável da metade encontrada, silenciosa e lentamente como o cair da noite.
Foi ao encontro dos cavalos-marinhos. E estava feliz.