segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Para o amor encontrado

Para ler ao som de "Vento no Litoral"
Ele queria um beijo. Mas só se fosse daqueles lábios, os carnudos com que sonhara por tantas noites longas e em claro. Queria enxergar o mundo, mas através das portas castanhas daquela alma sofrida e bonita. Queria só ouvir aquela voz - música para seus ouvidos - suave como a chuva calma da noite fria, aquela voz de pele de pêssego.
Encontrou bocas e olhos e vozes e se perdeu. E não quis ver ouvir sentir mais nada. Deu as mãos para a saudade do que nunca teve e saiu em sua companhia rindo e dançando na chuva. Estava feliz por não estar só, mas faltava algo: aquela boca, a voz de pêssego, os olhos castanhos. Despediu-se da saudade e caminhou sobre as poças de água e lágrimas que havia por aí.
Parou. Olhou, porocurou a agulha no palheiro e achou, lá longe, aquela voz, aqueles olhos, aquela boca - lá longe bem longe onde a vista não alcança. E de novo encheu-se de felicidade. Correu sem sair do lugar, gritou e só o eco respondeu. Mas estava ainda feliz. Achou o que já cansara de procurar. Estava lá depois do horizonte, mas estava lá.
Então abriu seus braços para o mar. Deixou sua roupa umedecer, a água fria entrando por todos os espaços. Era o amor possuindo até o fundo mais fundo daquela alma que achou a gêmea. Ansiou pelo encontro como a criança que espera pelo doce. Nadou até não sentir mais nada - nem braços nem pernas nem o oxigênio transitando pelos pulmões. Mas nem precisava sentir: era como o vento invisível mas devastador.
E nadou nadou nadou até o mais perto do horizonte que conseguiu. E cansou várias vezes no caminho, mas não desistiu. Não podia desistir agora, no meio daquela água toda. Mas não por medo de ser engolido ao fundo do mar. Não podia parar porque encontrara-se de novo com aquela metade de longe que queria perto, para sentir lábios e vozes e olhos e tudo.
E quando deu por si, lá estava, ainda na água, ainda tomato pelo amor. Eu vou conseguir, eu vou abraçá-lo e beijá-lo e convidá-lo pro jantar e pro sofá debaixo das cobertas com pipoca e Almodóvar e Tarantino e Coca-cola.
E uma euforia - a mesma de quem ama na adolescência, a mesma do primerio beijo e do primeiro porre - assaltou-lhe de repente. Era real. Era distante, mas era real. - Tocou-lhe a face, encarou-o nos olhos lindos e castanhos e contemplou sua alma tão doce que podia sentir-lhe o gosto. E - como nunca antes - completou-se.
E felicidade foi pouco para descrever o momento.
E a partir dali, nada do que viesse a acontecer seria melhor ou passível de comparação.
Então rendeu-se às águas mansas do enorme e imponente mar - amor. Sem piscar, sem respirar, sem nenhum som emitir, sua mão deslizou pela pele intocável da metade encontrada, silenciosa e lentamente como o cair da noite.
Foi ao encontro dos cavalos-marinhos. E estava feliz.

5 comentários:

Darlan disse...

"Era real. Era distante, mas era real."

Eu adorei isso! Texto lindo, cara! *-* E não há nada melhor do que a constatação que o amor é real.

Abraços!

Pequena Poetiza disse...

simplismente de tirar o fôlego

mt feliz pela sua volta meu caro

bjos

Paulinho Cajé disse...

Sem palavras! *-*

Surreal.


Abraço de panda!!

Anônimo disse...

Li ao som de Noite da Adriana Calcanhtto, e doeu com as cores do Renato Russo e ao tom das suas palavras. Foi lindo que doeu.

Escriba Eventual disse...

Fiquei feliz quando entrei aqui e percebi novos posts. E mais feliz porque conseguistes sentir o amor (esse é o melhor dos presentes! sentir o amor não é pra qualquer um...)
Feliz ano novo!
abraço