terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Egoísmo é defeito?

Não gosto muito de fazer citações, mas essa me chamou atenção:

"- O prazer é a única coisa merecedora de que se lhe dedique uma teoria - replicou lorde Henry, com a sua fala melodiosa e lenta. - Mas desconfio que não posso reivindicar a qualidade de autor dessa teoria. Ela pertence à natureza e não a mim. O prazer é o teste da natureza, o seu sinal de aprovação. Quando somos felizes, sempre somos bons; mas, por sermos bons, nem sempre seremos felizes.
- Ah! Mas que entende por bom?! - exclamou Basil Hallward.
- Sim - acudiu Dorian, recostando-se na cadeira e encarando lorde Henry por cima dos ramos de íris purpurinos do centro da mesa -, que entende por bom, Harry?
- Ser bom é estar em harmonia consigo mesmo - replicou o interrogado, roçando a haste fina do seu cálice com os dedos pálidos e afilados. - A discordância está em sermos forçados a viver em harmonia com os outros. A nossa vida: eis o que importa. A vida dos nossos semelhantes... quem quiser dar-se ares de pedante ou de moralista poderá julgá-la pelos seus critérios morais; mas a vida alheia não é da nossa conta. Além disso, o individualismo tem realmente a finalidade mais alta. A moral moderna consiste em aceitar-se o padrão da nossa época. Ora, a meu ver, um homem de cultura aceitar o padrão da sua época é uma forma da mais crassa imoralidade.
- Mas, meu amigo, quem viver egoisticamente, só para si, não pagará por isso um preço terrível? insinuou o pintor.
- Sim; hoje tudo se paga muito caro. [...]"
"O Retrato de Doryan Gray" - Oscar Wilde

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Canção para a tarde vazia

Cadê você?
Por onde anda,
Além de rodar
sempre por aqui?

Me pergunto e sei
Que a resposta não vem
E preencho essa urgência
Com a minha impaciência
Te esperando aparecer
Na esquina ou o telefonema.

Enquanto isso,
Para esvaziar esse vazio,
Pego o isqueiro -
Meu último paradeiro,
A última instância
Da minha loucura sã
E no vazio da tarde,
Quando tudo está laranja,
combinando com o filtro
Puxo e busco esperança
Que morre a cada ânsia,
Que enlouquece a cada
Instante enquanto nada vem.

Não sei se é certo
Se é correto ou indicado,
Mas é o que resta
Pra saciar a minha sede de você.

Que essa rotina não me mate
A menos que a ti me leve.
Mas ti, quem é?
Que tudo isso me levante,
Me dê força, me dê chance
De mostrar a mim mesmo
Que sou capaz de não perder.

Derruba minha pressão.
Cai e ultrapassa o chaõ,
Desce no poço mais fundo,
O mais fundo do mundo,
Onde tudo se esconde
Como se fosse crime.
Um crime branco,
Sem culpa, sem culpado,
Porque não há nenhum responsável.

E agora já não importa
Se a vida está misturada à morte.
E se assim for,
Que eu morra de amor.
E que, na pior das hipóteses,
Seja amor a mim mesmo.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

EU TE AMO

"Se tudo passa, como se explica
O amor que fica nessa parada?"
Hoje faz um ano. Será que você lembra? Aquelas palavras mal encaixadas umas nas outras, tentando explicar aquele amor guardado por tanto tempo, sem saber no que ia dar o resultado daquilo tudo. Amizade colorida? Amizade somente? Namoro? O jeito foi chutar e ver o que acontecia. E foi melhor do que pensei. Foi melhor do que sonhei, foi melhor do que eu teria escrito caso se tratasse de uma história de amor. E era. E foi. E é, por que não? uma história de amor, sem pontos finais, assim como você quis - embora não saiba se ainda o quer assim, sem fim. De lá pra cá tanta coisa mudou... Só não o meu amor por ti. Esse, se não aumentou, permenece inalterado. Não consigo não te amar. É mais forte que eu. "E quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?". Não estou seguro de que possa dizer o mesmo quanto ao que sente por mim, mas prefiro pensar que não vai me esquecer, ainda que o espaço que ocupo aí talvez esteja perdido no meio de tantos outros nomes, lembraças, sentimentos... Guardo tudo que de bonito nos aconteceu. Guardo com todo carinho possível e imaginável. Um dia você me disse que "nada é impossível, no máximo, é improvável". Fiquei pensando por um bom tempo nisso, e depois tive a prova - dada por você mesmo - de que nada é impossível. E naquele momento, o mundo parou, e tudo que me aconteceu nos dezoito anos anteriores foram compensados por aquele instante. Magicamente, não mais de alguns segundos, que se estenderam por toda uma vida. Isso tá parecendo papo daqueles românticos incuráveis. Talvez seja mesmo. Mas e daí? Se tivesse sido ruim, não teria deixado saudades, não teria me permitido pensar nisso todas as noites desde então. Cada lágrima que rolou, cada olhar, cada palavra (talvez não dita, mas escrita, na maioria das vezes), cada gesto, cada abraço, tudo, tudo tatuado na memória, fazendo parte dessa vida errante e solitária, porém feliz, apesar de melancólica. Hoje olho pra você e te vejo sorrindo ao lado do seu amor. Isso me alegra, me dói mas me alegra. Dói porque não está comigo, mas me alegra por estar bem. Tem tanta coisa, tanto sentimento, que me perco. Nas lembranças, nas conversas, nas noites não dormidas, pensando em você... Mas também, quem é que nunca passou por isso? Talvez seja só "mais um" amor, e talvez eu não me permita esquecer porque foi o PRIMEIRO. Em todos os sentidos. E talvez porque não queira ser esquecido também, mesmo não tendo sido o primeiro pra você. Só uma coisa iria me doer mais do que a sua ausência: a minha ausência em ti; o "ser mais um" entre outros tantos amores, curtições e sei lá mais o quê. Me diga que serei lembrado. Minha alma egoísta e apaixonada pede por isso. E mais: ela tem vontade de você outra vez. Do seu toque, do seu cheiro, do seu beijo tão gentil. Uma única vez. A ÚLTIMA. Para ficar para sempre guardada, inesquecível como a esperança que nunca cessa dentro em mim; indelével e inabalável, como o AMOR que sinto por você.