terça-feira, 12 de agosto de 2008

Título óbvio

"Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança"
Tô com saudade. Essa palavra sexta ou sétima mais difícil de se expressar em outras línguas, mas que no mundo todo desprevine pessoas que perdem noites de sono e dias de vida pensando e repensando e se moendo e se doendo angustiadas com a falta da presença daquilo ou daquele ou daquela ou de todos ou de alguém. Tô com saudade do riso, do som da voz, da cor do dente, do fundo dos olhos, do brilho da lágrima, da unidade do abraço, da intensidade do momento. Tô com saudade do beijo, da língua, da saliva úmida e quente e convidativa, das mãos pornográficas escancarando a indecência daqueles inocentes desejos carnais. Saudade de não sei o quê. Do toque, da união das peles, do calor dos corpos, do copo de vinho e do maço de cigarros sob a luz da lua crescente-cheia ao som de Raimundos. Das palavas no ouvido sussurradas, do silêncio que dizia tudo. Saudade de você.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Grito

Tem um grito aqui dentro. Seco, ensurdecedor. Um grito sufocado, preso e incômodo, que me tira o sono, que me faz perder a fome e a sede. Que me faz silenciar. Que me faz calar e engolir esse desespero que insiste em querer sair. Mas tenho medo de causar espanto. Guardo esse som estridente como guarda-se o mais absoluto dos segredos. Escondo a dor. Disfarço as feridas. Porque o mundo acostumou-se com aparências. Porque somos podres mas preferimos achar tudo lindo e perfeito, quando todos sabem que basta um sopro leve e tudo desaba. Mas não vou gritar. A aparência é o que restou, e sem ela, isso vira um pandemônio. É necessário que a hipocrisia grite para sufocar os desesperos e sustentar a ordem. Ainda que esta seja a maior das loucuras.