terça-feira, 1 de julho de 2008

[Pensando em um título]

Ela queria só uma presença. Qualquer que fosse. De uma música, de um animal, de um homem, uma mulher, um ET. Queria saber que não estava sozinha, mas sentia-se só e por mais que tentasse ver nessa solidão algo de positivo, não conseguia. Não enxergava o lado bom em sentir-se só. Talvez porque não houvesse o outro lado. Talvez porque fora incapaz de conseguir manter alguém por perto. Mas não pensava que pudesse ter errado nas atitudes que tomou para com os que se aproximavam. Fizera tudo certo, visitava os amigos doentes, sorria para quem vinha, oferecia café - ou prefere água? gelada? - às visitas, que não eram tantas, mas davam-lhe prazer. Agora, nada havia, senão um café frio na xícara, um maço de cigarros ao lado das pernas cruzadas no chão, um isqueiro vermelho-paixão do outro lado, e a fumaça cinza como aquela manhã, subindo errante pelos tijolos marrons amarelados pelo tempo e perdendo-se por onde sua vista cansada não se atrevia a tentar chegar. Pensava que era uma fase, e que, como toda fase, passaria. E esperava, porque é isso que resta a quem já não sabe mais o que fazer: esperança. Esperou por dias a fio a tarde quente em que ouviria o barulho da campainha e sairia correndo para atender o visitante sedento de companhia, assim como ela. Esperou, até que ele não aparecesse. E cansou-se de esperar - porque a esperança é a última que morre, mas morre. E decidiu então que viveria consigo mesmo. Que chega de esperar o príncipe encantado até porque ele não existe e também porque os casais hoje em dia são todos infelizes então eu não vou me casar e não vou dividir minha vida com ninguém e serei feliz a meu modo sem ter que dar satisfações a ninguém e quem é que precisa dessas coisas né? Deitou-se, a cama macia que fora testemunha de tantas lágrimas e cabelos desbotados despenteados arrancados em momentos de fúria inexplicável. Adormeceu tranqüila e não ouviu o barulho tímido do toque de mãos fortes e macias na porta da frente. Ele chegara. A razão de seu viver. Aquele por quem esperara durante incontáveis manhãs de céu claro, infinitas tardes de tédio mórbido e noites que se estendiam longamente no canto das corujas. Ele estava ali, perto, convidando-a a convidá-lo a entrar. Mas ela não ouviu. Não ouviu porque não podia. Porque por mais que levantar-se fosse seu grande e único desejo, jamais o faria novamente. Não pôde sequer abrir os olhos para tentar ouvir melhor. Pálpebras pesadas ocultavam o azul de seus olhos há tempos cansados de se salgarem. Não moveria mais um músculo sequer. Ele chegara tarde demais.

3 comentários:

Darlan disse...

Demorei, mas tô aqui! Haha.
Gente, texto lindo e fúnebre... eu teria tanta coisa pra falar se não estivesse totalmente mergilhado no texto, no esperar e nunca ter... ;/




Abraço grande.

Paulinho Cajé disse...

Como sempre neh Andérson texto lindo, palavras lindas...
O tempo há de mostrar a razão de viver a cada um de nós, embora o tempo eh chato com gnt às vezes!



Abração querido!

Escriba Eventual disse...

triste, mas lindo

=)