sábado, 5 de julho de 2008

Molhe-se

E de repente veio a pergunta: quantos dias sem tomar água? Quanto tempo sem perceber o líquido correndo por seus dentes, umidecendo seus lábios, correndo solta e descendo pelo caminho de sempre? E então percebeu que aprendia com a água, sempre avante pelo caminho incerto, mas sempre avante. E aprendeu com a água, que jamais se detem ante os obstáculos. Apenas os contorna tão docemente.
E há quanto tempo não fazia isso? A quanto tempo parara no tempo, observando sem compreender aqueles obstáculos todos e morrendo de medo de prosseguir? Não. Precisava ir em frente, contornar os desafios todos pelo caminho também incerto que havia diante de si.
Para onde iria era uma incógnita, mas a partir daquele gole, se dispusera a saber. Porque a água está por todos os lados, e onde a vista alcança, lá está ela: salgada, doce, petrificada, mas está. Cerca tudo que alcança, cerca tudo. E não se desfaz sem ter um porquê. Não vira vapor à toa. Evapora para subir e cair docemente por ali, ou furiosamente para arrastar uma casa do seu lugar. Mas não se abstem, jamais.
Então decidira-se por fazer como água calma que corre pelas cachoeiras, banhando as pedras frias e escorregadias. A água não tem medo de cair. E então também não teria. Ela está em todos os cantos, encantos, escondida, ou sob o sol, enfiada na terra fazendo brotar vida. Então decidira-se por também fazer brotar vida nas adversidades, úmidas ou não. Estaria onde estivesse, e contaminaria o que tocasse com a sua leveza molhada. Sem insistir, como a água discreta que quando vê, já molhou.
E seria belo viver como água, seria bonito e de bom gosto espalhar-se por aí, entre ruas, descendo escadas, encachoeirando-se por debaixo dos pés que corriam ou pulavam para esquivar-se (há que se lembrar que era desnecessário e inútil evitá-la, porque no momento do banho, de estar limpo, ela estaria lá, não?).
Então molhe-se, deixe-se levar pelas gotas frias do orvalho da manhã, ou pela chuva fina que cai para deixar as tardes elegantes, ou pela chuva pesada que nos acalanta para adormecermos ao cheirinho de terra molhada que ela traz consigo. Deixe-se invadir pelo líquido que nada cheira e nada deixa ver de si, mas que está sempre lá, como a luz do sol, que amanhece belo e luminoso para esquentar o chão imóvel, mas cheio do que ela tem de melhor: nunca parar e, docemente, seguir sempre em frente.

5 comentários:

Paulinho Cajé disse...

"Enquanto eu tiver chão sob os pés, enquanto eu puder caminhar,
enquanto eu puder estar viva,
enquanto minha hora não chegar,
talvez eu não vença o tempo todo
e ainda posso até cair
só quero manter minha alma forte, ERGUER A CABEÇA SEGUIR..."


Embora seja complicado essa coisa de erguer a cabeça e seguir, é isso que devemos fazer ou pelo menos tentar; é a tal história:
vamo que vamooo!!


AMEI O POST :)

Darlan disse...

Eu que deveria ser o primeiro a comentar. Fato.


Mas Anderson, que texto bonito! *-*
Haja inspiração viu?

Abração!!

Pequena Poetiza disse...

belíssima lição ^^
adoro teus escritos


mudei de endereço devido aos trantornos do antigo blog q estava.
me visite

bjos

Luiza Braz disse...

O Darlan sempre quer ser o primeiro a comentar no blog de todo mundo. hahaha

Texto lindo, lindo mesmo.

=)

Escriba Eventual disse...

A água é algo precioso em vários sentidos.
Incrível como a gente pode tirar lições de coisas tão comuns e que vemos todos os dias...

Abraço

(lembrei da música do Raul Seixas "Tente outra vez", especialmente na parte que ele diz "não pense que a cabeça aguenta se vc parar" e, o principal, "tente outra vez")