terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O Texto da Alma que Foi

"Deixa eu tocar sua alma
Com a superfície da palma
Da minha mão"
Me assalta de novo a necessidade de escrever. Aquela inquietação que não se sabe de onde vem, nem como chega e se instala, mas que, de repente aqui está e toma conta de tudo e não se ausenta antes de eu me sentar aqui e escrever (rabiscar) meia dúzia de palavras talvez sem sentido, talvez transbordando significados, mas com o único intuito de liquidar a sensação de "você TEM QUE escrever".
É meu compromisso com a alma. Ter papel e lápis na mão quando a alma quer sair de alguma forma. Aí ela sai por aqui. Finge que papel e lápis são portas e de repente ela chuta tudo ao acaso e sem aviso, e sai. Sabe lá pra onde vai. Perde-se por aí - ou encontra-se. E sempre se expulsa daqui de dentro da maneira mais "feroz" possível. Me deixa todo bagunçado por dentro, mas me deixa em paz.
Não sei que segura esse lápis. Me confundo quando escrevo, e não sei se sou eu, se é a tal da alma rebelde, ou se é uma mistura (afinal, uma alma vive sem corpo? um corpo vive sem alma?), ou ainda talvez não seja nada disso e eu esteja (eu?) inventando tudo só pra ter o que escrever. Mas nessa hipótese não creio. Enganando quem lê, se engana também quem escreve, porque se o que Clarice Lispector (por exemplo) escreve diz tanto a mim e é mentira o que ela me diz, então ela mentia para si ao transcrever aqueles pensamentos (que também sabe-se lá se não era a alma dela querendo sair...).
Não sei se consegui explicar, mas o que importa é que se, no caso d eeu estar escrevendo, estiver inventando tudo e enganando quem lê, também engano a mim (e isso é ainda pior, segundo o Renato, porque "mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira"). Se, ao contrário, quem divaga sobre verdades e mentiras aqui é a alma que quer sair de dentro, então engana a todos nós.
Então pronto. Bela alma que tanto queria se jogar no papel e acaba agora confundindo tudo. Se bem que não há, na arte da escrita - ou em qualquer outra arte - obrigação nenhuma de esclarecer nada.

Se me incomoda essa confusão? Lógico que não. O que me incomodava era aquela necessidade primeira de escrever. Se aquilo virou isso, não posso fazer nada...
E é o que vou fazer: nada. Sinto que a alma agor está longe daqui, e não sei se demora pra voltar (mas volta, fiquem calmos). Então paro aqui, e quando ela voltar, que sinta-se à vontade pra desonfundir tudo, ou nos confundir de novo...

2 comentários:

Anônimo disse...

cara, vc escreve mto bem mesmo!

vou sempre passar por aqui! ;)

Anônimo disse...

Mas tem que deixar sua alma se jogar mesmo, e se for no papel, hummmmmmmmmmm, melhor ainda! Tem mais gente lucrando com isso ;)



aBRaÇão